quinta-feira, 21 de julho de 2011

Resenha do livro: "Primeiro como tragédia, depois como farsa", por Jorge Barcellos

Primeiro como tragédia, depois como farsaSlavoj Zizek, Ed. Boitempo
No documentário Examined Life (2008), de Astra Taylor, Slavoj Zizek aparece em um imenso lixão americano vestido como um trabalhador do meio, numa imagem que não poderia ser melhor para resumir seu pensamento: lá onde fica aquilo que jogamos fora, aquilo que não damos importância e não perguntamos para onde vai está a metáfora do capitalismo que vivemos hoje, um sistema que se mostra maravilhoso em sua forma e mercadorias, mas que faz isso apenas mostrando um lado da história e ocultando todas as lutas sociais. Aquilo que não nos é dito e que leva a sua aceitação tem um nome para Zizek: ideologia.
Pois é justamente a análise da ideologia do período entre o 11 de Setembro e o colapso financeiro mundial de 2008 que é o centro de sua argumentação em Primeiro como tragédia, depois como farsa. Zizek, junto com Alain Badiou e Ernest Laclau, constitui o centro da “Nova Esquerda Lacaniana”, cuja principal característica é aplicar conceitos da psicanálise e da filosofia à critica da ideologia liberal. É o que faz em riqueza de detalhes nesta obra ao mostrar como a tese de Fukuyama do fim da história e a crença na democracia liberal capitalista finalmente foi vencida – ou morreu duas vezes. Primeiro, com o 11 de Setembro, que simbolizou o colapso da utopia política democrática liberal – sem, no entanto, afetar a face econômica – e segundo, com a crise financeira de 2008, símbolo do fim da face econômica do sonho de Fukuyama. A análise das condições e consequências dos acontecimentos desse período e da ideologia capitalista que determina a sua percepção faz-se no meio de uma compreensão engajada – Zizek adota o lado da defesa da idéia comunista, que ainda vive.
Renovando o pensamento de esquerda, com um texto repleto de ironia e exemplos notáveis, Zizek desvela a face perversa de um capitalismo cínico que se diz democrático, mas que oculta em seu interior um monstro autoritário prestes a nascer.


Jorge Barcellos
Historiador, Doutorando em educação, UFRGS


Fonte: http://diplomatique.uol.com.br/edicao_mes.php

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