Por Emir Sader.
Entre os tantos aspectos que Cypherpunks: liberdade e o futuro da internet, livro do Assange que a Boitempo acaba de lançar, um vale a pena ser destacado: o tema do segredo diplomático na políticas das grandes potências.
Atribui-se ao soldado Manning a responsabilidade de ter divulgado as senhas que permitiram a divulgação espetacular de documentos secretos de tantos Estados, que revelam a cara real da política desses países. O próprio fato dele ser tratado como “criminoso de guerra”, por ter supostamente entregue segredos de Estado aos inimigos, dá ideia de como os EUA consideram o caso de WikiLeaks e como o segredo é essencial à sua política.
As revelações propiciadas pelo WikiLeaks desmascaram uma série enorme de políticas e afirmações de governantes e de Estados, que mal camuflam o sentido real de suas políticas. Os governantes e seus ideólogos dizem que não seria possível qualquer política de Estado sem segredo, com transparência, com revelação das intenções reais por trás de cada ato de governo.
Na realidade, o espaço entre intenção e gesto é um abismo que, se revelado, como no caso dos papéis de WikiLeaks, decifra o significado das políticas e a natureza dos governos que os colocam em prática. A forma como tratam Manning, Assange e o WikiLeaks confirma a gravidade da revelação de documentos até ali considerados secretos.
Os segredos diplomáticos são similares aos segredos bancários e o segredo em torno dos movimentos de capitais nos chamados “paraísos fiscais”. São as caixas pretas do imperialismo e do capitalismo.
O WikiLeaks divulgou, entre outros, 75 mil diários militares sobre a guerra no Afeganistão, com a comprovação de centenas de assassinatos indiscriminados de civis pelos EUA. Logo em seguida foram publicados 400 mil relatos secretos sobre a ocupação do Iraque, com provas das torturas constantes sobre os prisioneiros.
Vieram depois mais de 250 mil comunicados diplomáticos – advindos de 274 embaixadas – que permitem a visão do modo de funcionamento efetivo das relações internacionais e de como os líderes das grandes potências se comportam nos bastidores.
Um relato descreve a execução sumária de dezesseis civis, incluindo quatro mulheres e cinco crianças, e as tentativas de bloquear os processos contra os militares norte-americanos responsáveis pelos massacres.
Foram também publicados 700 arquivos sobre prisioneiros de Guantánamo, revelando inclusive detalhes dos interrogatórios.
Daí o ódio contra Manning, Assange e o WikiLeaks.
Fonte: http://boitempoeditorial.wordpress.com/
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